(Crônica:
Uma análise crítica relativa ao meio ambiente). Texto e vídeo apresentados na Universidade de Santiago do Chile em 10 de outubro de 2015. O vídeo poderá ser encontrado no YouTube ou no meu BLOG.
Quero que
fique bem claro que eu não pretendo falar aqui neste vídeo dos oráculos, dos
místicos que na trilha do silêncio percorrem a busca de Deus. Nem me interessa
neste momento citar poderes mágicos, meditações, separar culturas, credos
religiosos e seitas. Também não quero questionar aqui, o silêncio, ausência de
sons, que podem representar emoções, sentimentos, desagrado ou introspecções.
O que escrevo pode ter acontecido num dia qualquer, numa tarde quente ou fria,
antes do sol nascer ou se pôr. Preocupado com a mãe natureza caminhei por uma
estrada que serpenteava no meio das plantações de milho ainda com pendo dando,
e mais adiante, embrenhei-me por entre um canteiro de flores nativas criadas
pela própria natureza, todas esparsas, que se alinhava à beira de estrada de
chão batido, e no meio do roseiral, um pé de Ipê cujas flores caiam sobre a
relva formando um tapete colorido, mágico, que resistiam as intempéries do
tempo. À medida que o cerrado ia se aproximando, observei que a estrada se tornava
mais retilínea, deixando de ser monótona. Já se ouvia o canto dos pássaros, um
bando de araras que passavam voando alinhadas emitindo gritos roucos, enquanto
as emas com suas pernas longas se assustavam com o ronco dos motores saindo em
desabaladas carreiras cortando o capim e galhos secos que já eram visíveis
naquele belo Parque Ambiental.
No
silêncio daquelas estradas, em pleno solstício de verão, a natureza parecia
oprimida, alguns animais passavam sorrateiros, uns se arrastavam lentos pelo
chão, outros velozes, mas todos com trejeitos e trotões diferentes, sem
atitudes repetidas, demonstrando certo medo da presença dos humanos que
visitavam o Parque. Alguns animais pereciam ter vindo de uma mata distante, de
um brejal, de um buraco, ou das cercanias de uma serra que meus olhos
conseguiam ver bem distante. A quantidade de animais solto naquelas pradarias
era tanta que me deixava boquiaberto. Fora do alcance da visão deles tentava
interpretar cada ação, cada movimento, porém, era fácil compreender que para
eles não existiam dia, noite, sol, frio, ontem ou amanhã, e não eram
sonâmbulos, nem robôs. Tinham pernas, braços, corpo cheio de pelos e penas, e
nem eram estranhos para nós. Estavam sob a nossa proteção naquele parque de
preservação ambiental. Um grito podia ecoar pelos campos e assustá-los ou até
para aqueles que viam o ser humano pela primeira vez, mas, por incrível que
pareça, alguns animais passavam perto das pessoas se fazendo de surdos e surdos
seguiam seus caminhos. Conheciam o seu habitat.
O trânsito
de pessoas, pouco a pouco, foi se acumulando e quando cheguei a um cruzamento
de estradas vicinais aí vi que a coisa piorou! Não era um estrangulamento
qualquer. Era muita gente e esquisitas mesmo! Saíam de todos os lados. Algumas
se moviam lentamente, outras paravam, e depois, andavam sem compasso, e
preguiçosamente, mais adiante, paravam novamente. Aquilo me deixava atônito.
Uns iam e voltavam levando e trazendo nos braços espingardas, machados e
motosserras. Outros, com trouxas nas costas seguiam sem rumo naquelas pradarias
em busca do improvável. As estradas, ora serpenteadas, ora retilíneas, pareciam
ter sido construídas para loucos, mas eu não era louco e o que eu estava
fazendo lá? Será que estava sonhando? E era um sonho mesmo, pois acordei em
sobressaltos. Então, se tudo eram apenas sonhos o fato é que tive de acalmar
meu coração com um gole d’água. E foi aí que me lembrei de minha alma de poeta
e dizem que todo poeta tem um pouco de louco, ainda mais quando se procura
sinais primaveris em épocas de verão ou inverno para captar inspirações e
escrever loucuras poéticas. Mas antes que eu acordasse daquele sonho, observei
que a impaciência continuava a buzinar no meu ouvido direito e o esquerdo que
era mais paciente, nem respondia, mas, as loucuras impacientes entraram em
confronto para tumultuar transformando numa zoeira danada, misturando vozes
humanas com os sons estridentes de tiros, barulhos de motosserra e berros
metálicos que vinham da única mata sobrevivente que se avivou no meu sonho
naquela noite fatídica.
Com o
coração batendo mais compassadamente e no afã de levar uma mensagem deste
rincão brasileiro levantei-me devagarzinho e me postei diante do monitor.
Comecei a escrever, amparado por um silêncio total. Lembrei-me dos momentos em
que visitei várias regiões onde me deparava com imensas queimadas e terras
totalmente devastadas pelos arados. Mas hoje, vivendo no mundo real senti a
impaciência nervosa e a quase paciente protestarem em conjunto, porque a
natureza está em perigo constante. E aí forcei a minha memória e captei de meu
subconsciente alguns flashes daquele sonho. Seguidamente vieram as vozes roucas
daqueles seres humanos esquisitos, os tiros, golpes de machado e os berros
metálicos que se multiplicavam. Parei. Dei uma pausa. Lembrei-me de quando era
um menino inocente e sonhador, que criava frases às vezes sem nexo, mas, quando
embebido de amor extraído dos quintais cheio de flores e frutos, sequer sabia
que existia entre o medo e emoção, o gosto do pecado e a certeza da paixão...
No meu recanto nostálgico, eu ouvia, às vezes, nas tardes silenciosas, o canto
de um Curiango vindo do pé da serra, não tão longínquo que era logo respondido
por outro. Ora, o outro, então, era um galo que cantava e a quem logo
respondia, como num eco, um cocoricó distante, esganiçado e simpático de um
galinho novato e aprendiz, que eu o chamava de Barnabé. E de novo o silêncio
caía sobre a gente como um cobertor macio, o cocoricó..., se esticando, se
esticando, perdendo-se num adormecer suave e brumoso em que se misturavam a
realidade e o sonho.
Vi que terra pedia socorro. Atônito, não tive alternativa senão em usar
as asas da imaginação com o fito de alertar a humanidade. Em segundos me vi
novamente vagando pelo espaço sideral e num vôo alado, esquisito, passei por
lugares distantes, inimagináveis, e sustentado pela força da gravidade ia
fotografando tudo que via pela frente e lá de cima vislumbrava a amplitude do
universo que nem sabemos ter fim. As nuvens nem se assustavam com aqueles pares
de asas brancas encorpadas num ser humano, mas, pareciam entender que cada uma
levava consigo uma esperança, ilusão, mágoa, ansiedade e medo. O corpo voava mansamente rumo norte, cuja
rota sequer tinha planilhas de vôo. Era apenas um corpo vagando pelo espaço de
olho na natureza e com flashes certeiros fotografava oceanos, serras, milhares
de meandros, savanas, lagos, matas e dezenas de rios que desaguavam no
mar. Num serrado ingente circundado por densa mata brotavam imensas queimadas
que sustadas pelo vento se alastravam, soltando aspirais de
fumaça que se misturavam com as nuvens, cujo fogo devastava os últimos resquícios
de verde, deixando-os esbatidos sobre a terra que chorava de dor. Aflito,
observei o homem atiçando fogo que queimava a terra com suas chamas ardentes, e
de forma implacável, aquele imenso serrado e matas, silenciosos, quedavam-se
sobre a terra.
Na ânsia
de preparar o plantio, o desmatamento para ampliação de sua lavoura, a limpeza
de um pasto e ou mesmo colheita manual de cana-de-açúcar é que faz o homem
atiçar fogo na área, destruindo a fauna e flora, empobrecendo o solo, reduzindo
a penetração de água no subsolo e, em certas situações, causam mortes,
acidentes e perdas de propriedades. Não obstante tudo isso, o que mais me
assusta é a poluição atmosférica com prejuízos consideráveis à saúde de milhões
de pessoas. As queimadas são associadas com modificações da composição química
da atmosfera e mesmo do clima do planeta que a cada dia nos sufoca. A terra
parece estar em transe e com seqüelas deixando a população mundial vulnerável,
não restando ao homem alternativa senão em buscar como último ato evocar
a proteção de Deus, pois se sabe que ela ainda não está preparada
espiritualmente para receber os efeitos danosos do aquecimento global.
Usando as
asas da imaginação como forma de alertar o leitor percorri também a estrada da
vida e durante o voo pude vislumbrar momentos de desespero em face dos
desastres naturais provocados pelo próprio homem. Foi através dessa
viajem imaginária, observando os erros e acertos em várias partes do
mundo, não cheguei a nenhuma conclusão fática em relação à ação humana, mas,
imbuído do desiderato de bem informá-lo e de haver encontrado ao longo dessa
“viajem” o amor e ver realizados alguns sonhos, muitas vezes, cheios de
nuances, que dificultam ao homem alcançar outros sonhos e objetivos antes de
chegar ao final da viajem, mesmo quando ele usa apenas as asas da
imaginação.
Noutras
regiões do planeta o homem desmatava, sugava areias dos rios, poluía o ambiente
com seus milhões de veículos e grandes indústrias que soltavam gases poluentes
de suas chaminés, jogando-os na atmosfera, formando no espaço o
dióxido de carbono que provoca o efeito estufa. E foi aí que passei a entender
porque tanto se noticia sobre aquecimento global. Entretanto, não adianta fugir
dessa realidade. As atitudes demonstradas por cada ser humano, por mais que
isso venha afligir a nossa terra, considero que essa demonstração
de descaso, caso não seja combatido, continuará sendo apenas uma gota de
orvalho que não tem mãos para levantar aos céus e pedir ajuda ao Criador, pois
rapidamente se evapora sob os raios de sol.
Em resumo,
hão de se convir que hoje exista uma complexidade ambiental que demanda uma
análise profunda da forma como o ser humano ter se relacionado com ela. A
Terra, alvo de exploração por uma sociedade apoiada na ideologia modernista,
tanto cientificamente como econômica e de forma ilimitada, caracterizada pelo
aumento do consumo, a natureza, convertida em recursos para os processos
produtivos e objeto de intensa agressão, como se vê nas imagens, começa a dar
sinais de exaustão. Se formos destacar os impactos ambientais provocados pela
atividade humana podemos incluir: o aquecimento global, a devastação de
florestas, a contaminação dos recursos hídricos, o aumento de resíduos
poluidores, a perda da biodiversidade, a poluição atmosférica com emissão de
gases de chaminés das fábricas e veículos, os quais repercutem negativamente na
qualidade de vida de toda a sociedade. O cenário que coloco neste texto
acompanhado de imagens exige uma postura ativa dos que exercem a Administração
Pública, com a aplicação do direito ambiental. Contudo, a sua abordagem
dominante enfatiza a perspectiva legalista, abstrata, marcada pela
racionalidade técnico-formal, que se revela insuficiente para tratar desta
cruciante situação que vive o meio ambiente, assim como, em outras dimensões,
como a social, ética, política e cultural. O mundo, com relação ao meio
ambiente passa por um momento de reflexão e todos, ambientalistas ou não, terão
que identificar de forma interdisciplinar as contradições de uma sociedade e
verificarem as possibilidades reais de sua superação. Concordamos quando
Horkheimer afirma: “A sociedade atual é dominado por uma racionalidade
capitalista, utiliza a natureza de acordo com seus interesses”, fato que tem
caracterizado a destruição do meio ambiente externo e a dominação interna do
homem que encontra dificuldades para superar esta situação. Concordamos também
que deve haver uma abordagem crítica do direito ambiental de modo que venha
permitir formular, discutir e enfrentar de uma maneira mais consciente e
precisa os problemas ambientais contemplando as suas especificidades sem perder
de vista as conexões entre as diversas dimensões da questão e sem que isto
signifique uma teoria abstrata e acabada, mas algo que possa ser constantemente
submetido à crítica e orientado para a transformação social.
Voltando a
comentar sobre a poluição ambiental, cujas imagens acima são estarrecedoras,
esta prejudica o funcionamento dos ecossistemas, chegando a matar várias
espécies animais e vegetais. O homem também é prejudicado com este tipo de
ação, pois depende muito dos recursos hídricos, do ar e do solo para sobreviver
com qualidade de vida e saúde. Os principais poluentes ambientais são: chumbo,
mercúrio, benzeno, enxofre, monóxido de carbono, pesticidas, dioxinas e gás
carbônico. Soluções para combater esse mal devem vir de ações governamentais,
incluindo, além da fiscalização sistemática e aplicação de multas às empresas e
pessoas que poluem o meio ambiente, também a conscientização da população e
desenvolvimento de programas de educação ambiental e incentivos governamentais
para que as empresas utilizem fontes de energia limpa como, por exemplo, eólica
e solar.
No que tange a poluição, esta é dividida
em quatro fatores: 1) Poluição térmica: a
temperatura do ar, ou da água, aumenta muito. No caso das águas, muitas vezes
essa poluição térmica ocorre em virtude da utilização dela para o resfriamento
de peças de grandes indústrias, sendo depois devolvida para seu lugar de
origem. Assim, ela retorna com a temperatura mais alta, podendo provocar a
morte de animais e outros seres vivos que vivem ali: 2) Poluição do ar, esta ocorre pelo aumento de gases poluentes na atmosfera. Esse
fato prejudica a qualidade do ar, podendo provocar doenças respiratórias em
diversas pessoas. Além disso, dependendo do gás em questão, muito outros
problemas podem ocorrer como o aumento da temperatura, chuvas ácidas, etc.
Alguns grandes responsáveis pela poluição do ar que fizemos por bem postar
imagens são os escapamentos de veículos, indústrias, queimadas de florestas e
incineração do lixo doméstico; 3) Poluição do solo: esta ocorre principalmente pelo acúmulo de agrotóxicos e de
lixo, como restos de embalagens, comidas, plásticos, etc. Esse tipo de poluição
compromete a vida dos seres vivos que ali habitam, e é capaz de contaminar os
lençóis freáticos (água que fica acumulada abaixo do solo). Para evitar esse
problema, devemos evitar usar embalagens desnecessárias, jogar fora o mínimo de
coisas possível, buscando sempre reaproveitá-las e também mandar consertar
aquilo que estragou; 4)
Poluição da água: a principal causa da
poluição das águas é o lançamento de lixo e esgoto nos rios, mares e lagos. O
esgoto, por conter diversas impurezas, pode transmitir doenças infecciosas e
contagiosas; causar a intoxicação e até mesmo a morte dos seres vivos que vivem
ali, etc. Quanto ao lixo, o excesso de sacolas, garrafas PET e outros produtos
de plástico, por exemplo, tem causado a poluição de diversas regiões do oceano
com esse material.
Tudo isso
é prejudicial à população mundial e causa uma degradação ambiental quase
irreversível. Ela é o processo pela qual se tem uma redução dos potenciais
recursos renováveis provocada por uma combinação de agentes agindo sobre o
ambiente em questão. A desertificação também é uma forma de degradação
ambiental. Qualquer processo que diminua a capacidade de um determinado
ambiente em sustentar a vida é chamado de degradação ambiental. Essa redução,
que leva ao abandono do ambiente, pode ser causada por processos naturais,
como, por exemplo, ressecamento do clima atmosférico, processos de formação dos
solos ou de erosão e até mesmo uma invasão natural de animais ou plantas
nocivas. Pode ocorrer também, direta ou indiretamente, por ações antrópicas, ou
seja, aquelas causadas pelo homem.
Hoje, em
razão dos fatos e situações comentadas acima, podemos afirmar que a mãe
natureza está triste. Dificilmente vemos animais nos campos, os rios estão
secando, faltam águas nas represas, os regos d’água para embalar os monjolos
estão secando. Não há mais quintais e nos campos dificilmente nascem flores.
Que silêncio! Perdemos a alegria harmoniosa do canto nostálgico dos bem-te-vis,
do rouco canto das araras, dos sabiás... E que suavidade e doçura a sua voz me
acalentava ao amanhecer. Que despertar festivo e triunfante eles me davam,
principalmente naquelas manhãs primaveris. O canto rouco ou nostálgico, não
importa de qual ave seja, transcendia o imaginário. Parecia saber colocar cada
nota e sabiamente relacionada com outras que repetia com maestria e o eco de
sua voz cortava o espaço daquele rincão levando saudades e nostalgia a outros
recantos. Notas musicais, uma diferente da outra, tudo em ordem, sem cacofonia,
sem igualdade. E por falar em igualdade, também, conclui-se que os homens são
assim. É a desigualdade que permite ordená-los e harmonizá-los. Cada pessoa é
como uma pequena nota no concerto da humanidade. Cada nota é necessária e tem
uma beleza particular. Por menor que ela seja, por menos que ela dure, coopera
para a beleza do concerto. Cada homem, por menor que seja, tem uma beleza
própria que lhe advém de ser o que ele é, um reflexo, uma imagem de Deus,
diferente dos outros. Cada homem é único e tem em sua alma uma beleza própria.
E é com essa beleza pessoal e única que cada um contribui para a beleza maior
do conjunto, para o grande concerto da humanidade, que Deus compôs com sábia
ordenação, com sapiencial desigualdade. Meu Deus! Tenho que deixar esta estrada
que corta o Parque Ambiental, que felizmente hoje protege a fauna e flora e me
faz recordar de um concerto de outrora que me traz saudade: a voz do galo
Barnabé, o canto das seriemas, dos bem-te-vis, dos sabiás e das harmonias do
seu canto! E que saudades dos ipês coloridos, das flores que ornamentavam os
quintais, das ribanceiras verdejantes e dos campos zelosamente cuidado pelos
nossos ancestrais. Quando voltarão a cantar os galos, os bem-te-vis, os
sabiás..., e ao anoitecer, o curiango, naquele cerrado íngreme? Quando voltará
tudo isso? Quando voltará a se ouvir na terra o concerto humanístico da
humanidade.
VANDERLAN DOMINGOS. Advogado, escritor, missionário e ambientalista. É Vice
Presidente da União Brasileira dos Escritores em Goiás; Membro da Academia de
Letras de Morrinhos e da ALCAI – Academia de Letras, Ciências e Artes de
Inhumas. Foi agraciado com Título Honorífico de Cidadão Goianiense. Escreve
todas as quartas-feiras para o Dário
da Manhã. Email: vdelon@hotmail.com Blog: vanderlandomingos. blogspot.com Site: www.ongvisaoambiental.org.br